Ex-aprendiz relata sua trajetória de vida.

Nascido em uma numerosa família, de seis irmãos, o piracicabano Joel Luis da Silva Barbosa, iniciou no final da década de 1970 no Instituto Formar (Guarda Mirim à época) onde, através da Banda João Romeu Pitolli conheceu a clarineta e começou a se aperfeiçoar.
Pela instituição teve seus primeiros passos no mundo do trabalho e, onde seu talento artístico foi se destacando e tomando conta de um futuro promissor. 
Conheça a história do menino crescido na Vila Boyes em Piracicaba, ex-aprendiz, que após passar pelo Instituto Formar, ingressou no Conservatório de Tatuí, formou-se bacharel em Teologia pelo Instituto Adventista de Ensino de São Paulo, bacharel em clarineta pela Unicamp e fez mestrado e doutorado, também em clarineta, na University of Washington, nos EUA. Atualmente, Joel Barbosa é professor titular da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
 
Confira:
 
Instituto Formar: Conte-nos sobre sua família, onde nasceu e como viveu sua infância.
 
Joel Barbosa: Nasci em Piracicaba, na Vila Boyes, em 30 de maio de 1964. Meu pai era montador de usina de açúcar e álcool e, minha mãe, além de cuidar da casa, fazia trabalhos para ajudar no orçamento. Entre estes trabalhos estavam bordar, costurar, lavar e passar roupas. Somos seis irmãos: duas irmãs mais velhas e quatro homens. Eu sou o mais velho dos homens. Meus dois irmãos mais novos também foram “guardinhas” e tocaram clarineta na banda. Minha avó materna sempre morou conosco e ajudou no orçamento trabalhando como zeladora no Colégio Assunção – atual Dom Bosco.
 
Passei a maior parte da infância na Vila Independência, indo para Escola Jaçanã Altair Pereira Guerrini, de manhã, e brincando com meu irmão próximo de mim, primos e amigos em casa e na rua, à tarde e a noite. Nesta escola, ouvi pela primeira vez uma banda de música tocar. Quando estava na Guarda Mirim, entendi que era a banda desta entidade. Da infância, lembro os bons momentos familiares de almoços e comendo doces, bolinhos e bolachas que minha mãe fazia. Nunca vou me esquecer de tantas brincadeiras e jogos que brincávamos na rua, de pegar peixinhos no rio do “Pisca” (Piracicamirim), de passear pela Esalq, de nadar no Rio Piracicaba, de andar de bicicleta, das festas juninas, etc. 
 
Apesar de sua aparência frágil, a presença da minha avó sempre foi muito forte como uma mulher trabalhadora, dedicada e íntegra que sempre estava ajudando nas tarefas de casa e nos educando. Com ela, frequentava missas e procissões nas igrejas São Judas Tadeu e Bom Jesus, onde fiz o catecismo e fui coroinha. Também em sua companhia e com minha mãe, frequentei um terreiro de umbanda por vários anos. Oportunidades preciosas que elas me proporcionaram para conhecer melhor nosso país tão diverso e belo. Minha mãe me ensinou a bordar muito cedo e pude ajudá-la nesta tarefa, algumas vezes. Meu pai era um homem forte que, apesar de ter passado pouco tempo comigo na infância, pois trabalhava em outros estados do país e mesmo no exterior, teve uma presença muito marcante em minha vida.
 
Tenho dois filhos que são muito próximos e amigos, apesar da distância. Eu moro em Salvador, (BA), e eles em São Paulo. Yuri tem 14 anos e Ingrid 20. Ele mora com a mãe e estuda no Colégio Anglo de Piracicaba. Ela faz faculdade de Comunicação na UNASP de Engenheiro Coelho, onde também reside, e toca nos grupos da universidade, violino na orquestra e clarineta na banda. Minha querida esposa, Maria Eugenia Milet, também é professora da Escola de Teatro da UFBA.
 
Instituto Formar: Como conheceu e quando ingressou no Instituto Formar (Guarda Mirim).
 
Joel Barbosa: Conheci a Guarda aos nove anos, com meu irmão e alguns amigos. Eu pegava papelão nas ruas para vender. Aos10 anos fui trabalhar em um supermercado no Bairro dos Alemães, para onde minha família havia se mudado. Depois, trabalhei como entregador em uma farmácia. Soube da Guarda Mirim porque um amigo deste período, Mario Osvaldo Bertochi, se tornou guardinha. Achava muito bonito o uniforme e também quis entrar na corporação. Isso deve ter sido em 1976. Minha matrícula era 608. Nunca me esqueci!  Foram anos maravilhosos de amizades, aprendizados, viagens, desafios e, principalmente, música.
 
Instituto Formar: Descreva como era sua rotina nesta época.
 
Joel Barbosa: De maneira geral, acordava cedo e passava o dia trabalhando como guardinha e, à noite, ia para a escola. Em duas manhãs da semana, tínhamos ensaios da banda. Aos sábados, aconteciam os ensaios do conjunto de flautas doces, Musicolor, e do coral, com o maestro José Luis da Silva. Alguns domingos, viajávamos para tocar. Muitos fins de semana e feriados, passava com os amigos da GM me divertindo, mesmo não havendo atividade da corporação.
 
Instituto Formar: Qual foi seu primeiro emprego  pelo Formar, quais funções que exercia e por quais outros empregos passou.
 
Joel Barbosa: Minha primeira atividade foi apitando o trânsito na saída dos alunos do curso matutino da Escola Benedito Ferreira da Costa, onde eu estudava no curso noturno. Foi por pouco tempo. Depois, substitui um colega, Jorge Pereira, que tocava requinta na banda, no antigo Banco Nacional, fazendo os trabalhos de correio por algumas semanas. Mas considero meu primeiro trabalho, de fato, ter sido office boy da companhia Xerox do Brasil. Sonhei em me tornar um técnico especializado daquelas máquinas fabulosas. Por causa das atividades com música, fui transferido para a sede da GM, onde passei a trabalhar como cobrador. Isso era muito bom porque pude organizar meus horários de cobrança na rua de maneira tal que me permitia estudar música todos os dias, sozinho e com os colegas.
 
Instituto Formar: Qual a importância da instituição para sua vida e carreira?
 
Joel Barbosa: A Guarda foi essencial para eu conseguir ser hoje quem sou. Foi aí que me apaixonei pela música e escolhi ser músico profissional. Ela me proporcionou, gratuitamente, instrumento, professor e atividades musicais para minha formação inicial que meus pais não tinham condições de pagar. O salário mensal que eu recebia era suficiente para não ter que procurar outro emprego. Aprendi muitos dos meus princípios de convivência social e de trabalho em equipe nas atividades e cursos da entidade. Diversas amizades daí perduraram por anos, algumas ainda permanecem, e foram muito importantes para minha vida.
 
Instituto Formar: Depois que saiu da Guarda Mirim, quais foram os caminhos tomados em relação aos estudos e carreira profissional?
 
Joel Barbosa: Depois da Guarda Mirim, mudei-me para Tatuí para estudar clarineta no Conservatório, juntamente com meu amigo-irmão da GM, Paulo Molina. Tínhamos uma bolsa de estudo do Governo do Estado para nos mantermos. Juntaram-se a nós outros amigos da GM, Oscarindo Roque Filho, Paulo César da Silva, João José Leite, Marco Antonio de Abreu Moraes. Organizamos uma república e minha avó foi morar conosco para nos ajudar. Outros passaram a frequentar o Conservatório mais tarde, como o Luís Cláudio Alves que era da minha geração da GM. A todos tenho muito apreço e sinto saudades. 
 
Após quatro anos em Tatuí, tornei-me adventista e entendi que seria muito difícil tocar em uma orquestra e seguir tal doutrina. Assim, parei de estudar música e entrei no bacharelado em teologia do Instituto Adventista de Ensino, em São Paulo. Depois de um ano no curso, resolvi trabalhar com música dentro da igreja e fui fazer o curso de bacharelado em clarineta na UNICAMP. Durante este período, trabalhei com diversas bandas, orquestras e coros em São Paulo, Campinas, Piracicaba, Hortolândia, Sumaré, Nova Odessa e Tatuí, ampliando meus conhecimentos artísticos e culturais. Neste período, quando ainda era adventista, comecei a trabalhar como mestre de banda no IAE e me interessei pelo ensino da música. 
 
Após a conclusão do bacharelado em música, consegui bolsas do MEC e da Fundação Vitae para fazer o mestrado e doutorado, também em clarineta, na University of Washington, nos EUA. Minha experiência profissional neste país foi muito intensa, tocando em orquestra, banda sinfônica, ópera, grupos de música de câmera e contemporânea e recitais, além de estudos da pós-graduação. Foi como parte destes estudos que elaborei o Da Capo, método de ensino coletivo para banda publicado pela Editora Keyboard (www.dacapo.mus.br). Com a conclusão dos cursos, fui trabalhar na Orquestra Sinfônica da Bahia e na Escola de Música da UFBA. Nesta universidade, continuo como professor titular e ministro disciplinas de clarineta, música de câmara, educação musical e banda nos cursos de graduação e pós-graduação. Como professor, tenho desenvolvido vários trabalhos sociais com música e atuado em projetos com bandas em vários estados do Brasil, além de tocar e participar de festivais e congressos em vários estados do país e países das Américas Latina e Norte, Europa, Ásia e África.  Integrei diretorias de várias associações musicais, como a ISME (International Society for Music Education), ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical) e ABCL (Associação Brasileira de Clarinetistas). 
 
Instituto Formar: Qual o conselho que você daria aos atuais aprendizes e para os adolescentes que pretendem ingressar no Instituto Formar.
 
Joel Barbosa: Não importa quantas tempestades cruzarão seu caminho, mantenha o amor, a integridade e a delicadeza como partes de sua bússola para chegar à felicidade.
 
Assessoria de Imprensa: Luciana Corrêa (MTB 31881) 
Telefone: (19) 3402-5573 
 
 
 

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